segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Taipan

Olá Pessoal, gostaria de mostrar-lhes minha mais nova faca, uma integral com lâmina recurva e estilo persa, que fiz sob encomenda para um cliente.

A lâmina mede pouco mais de 10 polegadas de comprimento, em damasco padrão Arkansas Breeze.

O falso-fio toma quase toda a extensão da lâmina.

Fiz o cabo com talas de osso de girafa estabilizado, em tons de laranja, branco e preto. O design recebeu uma curvatura mais acentuada que o usual, para harmonizar com a lâmina sinuosa. 

As talas foram afixadas com dois pinos mosaicos.

A empunhadura e o balanço ficaram perfeitos, deixando a faca extremamente confortável nas mãos.

Para os amantes de facas integrais, um belo exemplar.

Espero que gostem. Abração!


Taipan

Curvatura bem acentuada do cabo

Vista superior da junção perfeita das talas de osso de girafa

Curvas sempre agradáveis aos olhos

Osso de girafa, um material extremamente forte, 
íntegro e muito bonito

O padrão Arkansas Breeze

Vista superior de toda a faca

A junção quase invisível entre as talas, na parte inferior do cabo

Os belos tons do osso de girafa



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sábado, 28 de dezembro de 2013

Meditando sobre Disciplina

Qual de nós nunca parou pra pensar em qual é o segredo de grandes expoentes do esporte, dos negócios, da ciência. O que fizeram estas pessoas chegarem tão alto em suas áreas de atuação. Qual seria o segredo delas?

Obviamente, em cada área, exige-se uma gama de atributos que somados, tornam alguém especial. Coragem, ousadia, astúcia, sensibilidade, paciência, serenidade, confiança, abnegação, fé. Essas e tantas outras qualidades são responsáveis por fazer alguém chegar ao topo, a dominar sobre todos os outros.



Mas dentre essas características, existe uma que está presente em cada campeão, cada recordista, cada vencedor: a disciplina.

Todos nós temos nossos próprios conceitos formados sobre o que é disciplina. É um adjetivo invariavelmente associado aos grandes nomes, responsável por alavancar alguém do anonimato à glória.

É a capacidade de fazer o que deve ser feito, deixar de fazer o que não se pode, por vontade própria, independente de interferências externas.



Mesmo sendo um militar vocacionado, amar o que faço e ter muito orgulho disso, neste artigo não pretendo analisar a disciplina militar, tão comumente citada. A ótica dessa reflexão pretende analisar aquelas personalidades que tem a disciplina como uma de suas mais marcantes características, de forma espontânea, voluntária e autêntica.

A vida profissional do militar é norteada por sua conduta disciplinada, que por vezes não é totalmente espontânea, mas mantida em virtude da existência de ferramentas permanentes de controle como o Regulamento Disciplinar e o Código Penal Militar. A possibilidade de sanção disciplinar nas hipóteses de cometimento de infrações macula a espontaneidade e voluntariedade da conduta. 

Vamos lá...
 

Oscar Schimidt, nosso maior jogador de basquete de todos os tempos, além dos treinos convencionais já normalmente extenuantes, ainda fazia uma média de 2.000 arremessos diários. Por vezes sua esposa ficava devolvendo-lhe a bola por horas, enquanto ele incasavelmente acurava sua pontaria. 



Mão Santa... uma ova! A habilidade dessa mão não caiu do céu, foi desenvolvida metodicamente mediante milhares e milhares de repetições diárias, cansativas e massantes até atringir o ápice da destreza e da precisão. E o que ele conseguiu com isso? O recorde mundial registrado no Guiness Book como o maior pontuador da história do basquetebol mundial. O segredo de Oscar: Disciplina.


Amyr Khan Klink, explorador brasileiro que pelas minhas contas, já poderia, diante dos enormes perigos pelos quais já passou, ter morrido uma 2.000 vezes. Teria ele um anjo da guarda que nunca tira férias, nem faz um pequeno intervalo sequer pra tomar um cafezinho? Sim é claro, nosso bravo desbravador, assim como todos nós, também é cuidado por Deus, mas cada um deve fazer sua parte! 



Entre os feitos incríveis de Amyr, como a travessia do Atlântico Sul à remo, consta uma viagem, em solitário, por mais de 2 anos onde ele dormia sonos interrompidos à cada 45 minutos. Imaginem vocês, durante 2 anos, ter seu agradável soninho interrompido por um despertador insistente a cada 45 minutos. Esse era o tempo máximo que o navegador poderia ausentar-se do controle do radar e do piloto automático de seu veleiro, evitando de chocá-lo contra outro barco ou contra um iceberg. 



Será que ele nunca pensou "hoje vou dormir um sonão, afinal pra esses lados do oceano não vem ninguém mesmo!". Certamente que pensou, mas seu senso de disciplina o impediu de ser negligente e colocar tudo a perder. Imaginem-se sozinhos, durante 2 anos, no controle absoluto de tudo o que acontece em suas vidas, sem em nenhuma ocasião poder depender de ninguém para fazer a própria comida, lavar a própria roupa, dormir, cuidar da sua saúde, fazer a manutenção do seu barco e de quebra, enfrentar tempestades com ondas de 15 metros de altura, como ele enfrentou no atlântico sul, naquela que ficou conhecida como "A Tempestade do Século". Tudo isso fez dele o maior explorador brasileiro. Disciplinado ele???


E o que dizer da eterna batalha pelo título de maior jogador de futebol de todos os tempos. Pelé ou Maradona? Deixando o bairrismo de fora e me eximindo da responsabilidade de julgá-los sob o aspecto técnico, diante de minha assumida qualidade de perna de pau, vamos pensar... Realmente, a despeito de gols feitos com a mão e das encenações dignas de um Oscar promovidas por Dom Dieguito, todos temos que convir que o baixinho era real e excepcionalmente habilidoso. 



Entretanto, habilidades à parte, ressaltando a inquestionável maestria de Pelé, creio que um ponto facilita muito essa escolha: a disciplina. Meu falecido Pai, José Francisco Berardo foi jogador profissional de futebol nos tempos de Pelé, e era fã incondicional do goleador. 



Me lembro como se fosse hoje dele me dizendo: "O Pelé era excepcionalmente habilidoso e forte como um cavalo, mas ninguém treinava como ele!!!" Dizia que não se ouvia falar que o Pelé fugia de concentrações antes dos jogos, nem tampouco se via seu nome envolvido em escândalos de bebedeiras e drogas. Já Dieguito...



Todo mundo há de convir que não adianta ter superpoderes e "ser do mal". É necessário ser o "mocinho do filme", ter boa conduta. Todos nós queríamos ser os superheróis dos desenhos animados, não os bandidos. Acho que nessa questão de "chuteira de ouro" quem resolve fácil e inquestionavelmente a parada é a tal da disciplina!


Diferentemente do que muitos pensam, Bruce Lee não foi apenas um lutador coreógrafo de Hollywood. O grande mestre Chinês criador do estilo de luta Jet Kune Dô era um excepcional lutador, personificação do verdadeiro espírito das artes marciais, pensador e filósofo. 



Ele disse: 


“Empenhar-se ativamente para alcançar determinado objetivo 
dá à vida significado e substância.” 

Já assisti a diversas biografias e li relatos de atores que trabalharam com ele e todos são unânimes em ressaltar a auto-disciplina do lutador em todos os momentos, nos sets de filmagem e na vida particular. Buscava o esmero em tudo o que fazia, por isso seu estilo e vida são seguidos e estudados.


Reinhold Messner, um italiando com nome e criação alemães, é sem dúvida o Pelé do Alpinismo. Desde jovenzinho,  Ele chocou o mundo sendo o primeiro homem a escalar, sem o uso de oxigênio, os 8.850 metros do monte Everest, em 1978. Em 1980 foi o primeiro homem da história a escalar o Everest sozinho. Também foi o primeiro homem a escalar todos os 14 picos com mais de 8.000 metros de altitude do mundo.  


Seu primeiro feito foi escalar o Monte Ortles, nos aples, acompanhado por seu irmão Günther, em apenas 1 dia, por uma via considerada impossível. Até então outros escaladores o escalavam em 3 ou 4 dias. Reinhold e Günther subiram e desceram no mesmo dia! 


Messner está vivo e é considerado pelo mundo alpinista como o melhor de todos os tempos. Inicialmente se estudava seu estilo, mas depois notou-se que a chave de seu sucesso era sua disciplina em preparar-se, se concentrar e se abster de todo o resto enquanto enfrentava as montanhas mais perigosas do planeta!


Roald Amundsen nasceu em uma família noruguesa de Capitães e Navegadores. Ainda jovem tornou-se campeão nacional de esqui cross country e lançou-se ao mar, seguindo a vocação de seus antepassados.


Em 1803 foi membro da tripulação do Navio Bélgica que descobriu a Passagem Noroeste, provando ser possível passar do oceano Atlântico para o Pacífico, navegando entre a América do Norte e a massa polar ártica.

Em 1910, pouco antes de partir liderando uma expedição que objetivava ser a primeira a chegar ao Polo Norte, a notícia de que o Capitão norte americano Robert Peary o havia feito, fez-lhe mudar secretamente de planos.



Somente 2 dias depois de zarpar, reuniu e informou sua tripulação que estavam rumo a um feito até então inédito: o Polo Sul.

Sua expedição conseguiu êxito. Amundsen, durante o planejamento, previu que seu navio à velas levaria 100 dias entre Oslo e a banquisa de gelo austral. Mesmo sujeito ao humor dos ventos e marés, Roald foi quase perfeito, levando 101 dias para fazê-lo.



Sua tripulação conseguiu realizar com perfeição tudo o que ele planejou e liderou, sem qualquer imprevisto e problemas sérios. 

Atualmente, bons cursos de graduação e pós-graduação em Administração de Empresas por todo o mundo estudam a capacidade de liderança e planejamento de Roald Amundsen, norteadas por sua impressionante disciplina.



Mas depois de tantas histórias impressionantes, de feitos fantásticos, por pessoas extraordinárias, onde nós, pessoas comuns entramos nessa história?



Pat Tillman, jogador de futebol americano que voluntariou-se para servir a seu país na guerra do Afeganistão e foi abatido em combate, tornando-se um símbolo nacional disse:


"A disciplina é a ponte que liga nossos sonhos às nossas realizações."


Ésquilo, dramaturgo grego que viveu no século 5 antes de Cristo disse:

"A disciplina é a mãe do êxito!"


William Arthur Ward, escritor e administrador americano disse:
"O preço da excelência é a disciplina. 

O custo da mediocridade é a decepção." 

Estamos nos aproximando de um novo ano, "período oficial de se fazer promessas" do tipo:

- Neste ano vou fazer regime;

- Vou estudar mais;

- Comprarei minha casa própria;

- Serei um profissional melhor, ... 

A questão é que, sem disciplina, sem auto-domínio, sem compromisso consigo mesmo, nenhuma promessa vaga e motivada pela emoção e pelo álcool das festas de reveillon será cumprida. Exigir-se de si mesmo, cobrar-se, na medida certa, é um exercício saudável. É claro e evidente para todos nós que nossas conquistas dependem essencialmente de nossas escolhas e posturas. 

Ninguém chega a gerente de uma empresa séria sem ser disciplinado. Não se constrói nada de relevante sem disciplina. 

Conheço pessoas que, para suas próprias desgraças, continuam nos mesmos status quo de vinte anos atrás. As mesmas práticas, os mesmos discursos, a mesma mentalidade medíocre de culpar a todos, menos à si próprio, por seu fracasso e incapacidade. 

Passar a vida se justificando é coisa de gente fraca, vencida, derrotada. Todos tropeçamos e cometemos erros, mas a capacidade de aprender com eles, reavaliar e vencer velhos obstáculos é uma virtude daquele que cultua a auto-disciplina. 

Ninguém será campeão faltando a treinamentos, empenhando-se somente na presença de seu treinador e enchendo a cara em baladas nos finais de semana. Ninguém será escolhido o funcionário do mês, nem tampouco promovido, chegando atrasado, trabalhando com desídia, fazendo o "mínimo ético". 

O pior é que nossa cultura ocidental espera o reconhecimento antes do esforço. Todo mundo quer ter aumento, mas não se digna a trabalhar 1 minuto além do combinado, a fazer nenhum outro trabalho além daquele para o qual foi contratado, empenhar-se acima da média. 

Nossos estudantes querem passar no primeiro vestibular, mas ficam alienados o dia todo na internet e jogando videogames. Nossos universitários sonham com o sucesso, com carreiras brilhantes e uma futura vida financeira confortável, mas nas vésperas das provas, viram a noite em botecos, discutindo no máximo... filosofias de boteco. 

Todo mundo sonha em andar por aí num carrão esportivo e morar numa casa suntuosa, mas não se submete a pagar o preço para conquistarem uma posição que lhes proporcione realizar estes sonhos. 

Enfim, no geral, convivemos com um bando de loucos, que esperam um resultado diferente, mantendo as mesmas práticas! Isso... é loucura!




Que no ano de 2014 nós tenhamos antes de tudo, a capacidade de avaliar sinceramente aquilo quem fomos em 2013, com todas as nossas virtudes e falhas. Que sejamos sinceros conosco, em reconhecer aquilo que realmente necessita de mudança e lúcidos para fazermos promessas carreadas de ações que as possibilitem acontecer. 


Que Deus nos abençoe, inspire e capacite. Que tenhamos todos um ano repleto de trabalho, cansaço, esforço, suor, sacrifício e dos frutos destes, como sucesso, realizações e conquistas! 

Feliz 2014!!!



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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Chocolate com Creme

Olá meus Amigos. Gostaria de apresentar-lhes esta linda faca de chef de cozinha, que fiz sob encomenda para um grande cliente.

Ela sofreu alguns sutis ajustes no projeto para servir melhor quando utilizada em um belo churrasco. Alterei o comprimento de lâmina, que ficou fora dos usuais 8 ou 10, passando para 11,5 polegadas de área de corte, suficientes para cortar uma enorme peça de carne.

Também manti a geometria de fio um pouquinho mais robusto, para que ela trabalhe bem também com ossos... no caso de uma suculenta costela.

O aço damasco é em padrão Rain Drop, cheio de "bolinhas" que combinam perfeitamente com os inúmeros "olhinhos" do maravilhoso cabo de raiz de Maple estabilizada em raríssimos dois tons: chocolate e creme!

Apreciem, postem seus comentários e tenham um maravilhoso natal!

Um enorme abraço a todos!


O psicodélico padrão Rain Drop, 
ou também chamado de Bird Eyes

As cores impressionantes do cabo

Vista superior

"Ventre" do cabo

Cheia de olhinhos!

Ponta bem agressiva

Bela facona... belo churrasco!


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domingo, 22 de dezembro de 2013

Good News.

Caros Leitores, Amigos, Clientes e Amantes de Cutelaria que acompanham meu blog, anteontem dia 20 de dezembro foi publicado o resultado da 2ª fase, e também o resultado final, do concurso de admissão ao Curso de Mestrado em Ciências Policiais ao qual concorri.

Fui APROVADO!!! 

Com isso estarei habilitado futuramente as promoções a Major, Tenente Coronel e à Coronel quando da passagem para a inatividade, daqui a exatos 9 anos! 22 de dezembro de 2022 completarei 30 anos de carreira!

Foi feita uma retificação das 100 questões da 1ª fase, onde tive 76 acertos, correspondendo a 36ª melhor nota dentre os 190 candidatos.

Fiquei extremamente feliz com a aprovação e como havia prometido estou dando a todos essa maravilhosa notícia!

Quero agradecer profundamente as várias dezenas de mensagens de incentivo que recebi, algumas realmente emocionantes, onde se via que estavam torcendo por mim de todo o coração!

Aproveito essa oportunidade para desejar a todos um maravilhoso período natalino. Que o real espírito do natal invada todos os corações e nos transformem em pessoas melhores!

MUITO OBRIGADO!!!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Desempenho de Corte: Quando a Ciência encontra a Arte!



Com absoluta certeza, nada gera mais mística na cutelaria ancestral e moderna do que o desempenho de corte de uma lâmina. Afinal de contas, uma lâmina serve, antes de qualquer outra função, para cortar.

Lendas atravessaram os séculos sobre absoluto poder de corte de algumas espadas.

Até mesmo nos dias de hoje, brilhantes estratégias de marketing produzem verdadeiros "milagres cortantes" que, pelo supremo poder de corte, só podem ter sido forjadas pelo Senhor nosso Deus!

Vamos sepultar de uma vez por todas as fantasiosas, absurdas e mentirosas afirmações das Fantásticas Facas Guin........, que não precisam ser afiadas nunca!

Balela marqueteira! Todo material que entra em contato com outro, gera atrito e portanto sofre desgaste! Até o diamante!

E o que dirá do desprazer que tive de assistir à uma "fantástica demonstração de corte milagroso" com uma faca, onde o performático cuteleiro cortava arame apoiado sobre um duro anteparo, com a parte inicial do fio da faca, perto do cabo, que tinha uma geometria de fio mais semelhante à de um machado e na sequência, aproveitando-se da distração dos embasbacados observadores, fatiava um tomate com a outra extremidade do fio, perto da ponta, usinada muito mais agressivamente, que permanecia intocada do corte mágico do arame!


Cutelaria e Metalurgia são uma miscelânea de ciência e arte! Isso é ESTELIONATO e esse camarada não é cuteleiro... é BANDIDO, e vendeu muita faca por causa desse TRUQUE!

Não existe mágica, fórmula secreta, magia nem ilusionismo. Toda faca necessita ser afiada! O que passa disso, plagiando a Bíblia Sagrada, é de procedência do mal!!!

Mas onde termina a mística e começa a realidade? Qual é a fronteira entre o marketing e a ciência?

Vamos analisar alguns dos fatores determinantes do desempenho de corte, não todos eles, pois seria demasiadamente demorado e extenso, porém os principais!

A belíssima espada japonesa

E para discutirmos sobre corte, vou usar como referência a lâmina mais cortante já produzida pelo homem, a espada japonesa Katana.

Katana em ação

Sem qualquer hesitação é a mais eficiente arma antiga que a humanidade criou. Além do mais, obviamente, por ser o ápice do desempenho de corte, ela contém muito bem destacados os principais fatores determinantes a que me referi.

Mestre forjador japonês

Por séculos artesãos forjadores japoneses desenvolveram técnicas de confecção secretas, que eram passadas e aperfeiçoadas de geração em geração, somente àqueles dignos de deter tão sagrado conhecimento.

Samurais

O fruto resultante desse árduo desenvolvimento técnico, aperfeiçoado especialmente mediante tentativa e erro, tornou-se uma lenda nas mãos dos lendários guerreiros Samurais, que eram hábeis não somente com a espada, mas com arco, lança, cavalo e inúmeros outros implementos de guerra.  

Mas por que, diante de infinitos designs e técnicas construtivas a Katana se destacou tanto:

1. Perfil do Fio:

A sensual curvatura acentuada do fio de uma katana não se trata de forma alguma de um requisito estético. Essa curva reduz a superfície de contato inicial entre o fio e o objeto a ser cortado, que por ser menor, produz consequente aumento de pressão na área de corte, que toca o objeto

Teste de corte

Isso é óbvio... acompanhem o raciocínio: Como cortamos uma prancha de madeira com maior facilidade usando uma faca, na face maior ou na menor? Na menor, claro... assim conseguimos maior penetração do fio na madeira, pois a área do fio que entra em contato com a madeira é menor, exercendo maior pressão e encontrando menor resistência!!!


Faca de cozinha - fio curvo

Essa é a grande sacada dos fios curvilineos das Katanas e também de vários outros estilos de lâminas com perfil de fio convexo, como por exemplo facas de chef e alguns modelos de bowies.


O altamente cortante fio curvo

E qual seria então a destinação dos fios de perfil reto e côncavo (ou recurvo)?

Os fios planos tem capacidade de "colher" uma maior superfície de corte de uma só vez, ou seja, o fato de ter seu fio reto faz com que este toque uma maior superfície de uma só vez.


Exemplo de fio plano

Por isso que facas de churrasco destinadas a cortar grandes peças de carne, tem longos fios planos.


Perdendo a cabeça

E o fio recurvo? Ele serve para cortar mediante impacto, ou seja, cortar golpeando. Talvez o melhor exemplo desse design sejam as míticas facas kukri. Que serviam pra quê??? 


Gurkhas Nepaleses

Decapitar o inimigo!!! Os temidos soldados nepaleses fizeram muita gente literalmente perder a cabeça, durante a 2ª Guerra Mundial! 

2. Composição química do Aço:

Certamente esse é o ponto mais explorado midiaticamente. Provavelmente todos que gostam de facas devem ter ouvido no passado sobre o famoso aço alemão Solingen, que na verdade não é o nome de um aço, mas de uma cidade com forte tradição metalúrgica.

Realmente os aços produzidos na região de Solingen eram e ainda são excelentes, aliás, como praticamente tudo produzido pelo povo alemão. Contudo, a forte estratégia de marketing conduzida com excelência pelas indústrias metalúrgicas alemãs, fizeram com que hoje, tenhamos falsificações de facas Solingen Stahl produzidas em dezenas de países do mundo.



Mas afinal, o que torna o aço bom para corte?

Uma infinidade de componentes químicos, mas o manda-chuva deles sem dúvida é o carbono.

Os aços classificam-se em:

a. Baixo carbono;

b. Médio Carbono; e

c. Alto carbono.

Destes, os médios e altos normalmente são os mais utilizados para a confecção de facas e canivetes e os baixos e médios normalmente para a confecção de machados e espadas. Isso não é regra! Eu explico...

Os machados e espadas cortam normalmente mediante impacto, ou seja, corta-se golpeando. Isso produz uma consideravel "torção" na lâmina, invisível olho nu. A lâmina em questão deve permanecer intacta depois dessa torção. Essa capacidade de sofrer deformação e retomar a forma original é tecnicamente denominada de tenacidade. Aí entra o carbono e a dureza advinda do tratamento térmico.

Quanto mais dura a lâmina, mais fácil de ela quebrar. Isso é regra! Como na maioria das facas e canivetes cortamos mediante deslizamento do fio (exceto por exemplo camps e cutelos), pode-se imprimir mais dureza quando do tratamento térmico.

Para espadas e machados, é conveniente que fiquem um pouco menos duros, para otimizar a tenacidade. Ou seja, uma espada, está normalmente mais para uma mola, do que para uma faca. De nada adianta ter um fio super duro e no primeiro golpe do oponente perder a lâmina... e no segundo perder a cabeça!

Entretanto, em se tratando de uma lâmina de faca, por exemplo, não podemos simplesmente pensar que quanto mais dura melhor e ponto final. Isso é burrice.

Em tese, tendo mais dureza, teríamos mais retenção de fio. Ou seja, quanto mais dura a lâmina, menos teremos que reafiar a faca. A dureza alta reduz o coeficiente de desgaste do fio, fazendo com que a faca necessite de menos afiação.

Normalmente as facas custom são produzidas entre 48 e 62 Rocwell C.

Mas há outra coisa a se considerar. Quanto mais dura, muito mais dificil de afiar. Uma faca com dureza 62, 64 por exemplo, só é afiada com uma pedra diamantada, e dá um baita trabalho pra refazer o fio. Ao passo de que uma faca com 56 ou 58, numa situação emergencial, pode ser reafiada até com uma pedra de rio!!!

Considerando que nós nunca sabemos com certeza em quais circunstâncias nossas vidas dependerão de nossas facas, eu sempre opto por uma dureza entre 52 para as maiores e até 60 para as facas menores.

Isso não é medido faca a faca. Temos uma estimativa baseada na tabela de tratamento térmico dos aços.

Um estudo realizado nas forças armadas americanas concluiu que todas elas, Marinha, Exército, Aeronáutica e Corpo de Fuzileiros Navais, preferiram facas menos duras, por serem mais tenazes, resistentes e de fácil manutenção de fio!

Mais uma vez, o meio termo é a melhor opção!

3. Tratamento Térmico:

Quando falamos de tratamento térmico de facas custom, basicamente temos:


Normalizando uma faca durante o curso avançado com 
o Mastersmith Rodrigo Sfreddo

a. Normalização: etapa onde mediante aquecimento à determinadas temperaturas, livramos as lâminas das tenções internas advindas do forjamento;


Temperando

b. Têmpera: etapa de "endurecimento" do aço mediante aquecimento e resfriamento brusco, onde alcançamos a máxima dureza de cada tipo de aço;

c. Revenimento: esse é o ponto! Etapa, onde mediante exposição da lâmina temperada a aquecimento em um forno, conseguimos baixar a dureza excessiva, até uma dureza que chamo de "saudável", ou seja, adequada para uso, promovendo boa tenacidade, boa retenção de fio e razoável facilidade de reafiação.

Vou citar o exemplo dos aços mais conhecidos e utilizados no Brasil: 52100, 5160, 1070, 1095, O1, W1, W2. 


Medidor de dureza Rocwell C

O tratamento térmico é tão vital para o desempenho de corte que, por exemplo, tanto com o 5160, que tem 0,60 % de carbono, quanto com o W2 que tem exatamente o dobro, 1,2 %, conseguimos durezas entre 40 e 60 Rocwell C.

No país, tem-se uma errônea noção de que quanto mais carbono melhor e ponto final. Isso não é verdade. Qualquer lâmina confeccionada com os aços acima citados, se tratada termicamente correta, é capaz de produzir altíssima performance.

Já citei isso o artigo "Damasco, Carbono ou Inox: Afinal qual é o melhor aço?", no Brasil alguns colecionadores tem um certo preconceito com o aço 5160, por ele ser um aço de médio carbono. Mas exatamente esse aço, é o maior vencedor absoluto das edições do Campeonato Mundial de Corte, normalmente realizado nos Estados Unidos.

Ademais, eu pessoalmente já cortei um cabo de aço, da espessura de meu dedo indicador, tendo-o apoiado e batendo com um pedaço de pau no dorso da faca, numa única tentativa (faca feita pelo cuteleiro Ricardo Vilar - modelo Lobo Guará). O cabo seccionou totalmente na primeira pancada, a faca não sofreu nenhuma deformação no fio e admirem-se, a lâmina era feita de 5160. Obviamente que depois disso ela perdeu o fio e necessitou ser reafiada, contudo manteve-se estruturalmente intacta. 

De nada adianta um aço de última geração, se a lâmina não passar por criterioso tratamento térmico.

4. Geometria de Fio:

Essa é certamente a mais difícil de ensinar a novos cuteleiros, bem como de explicar a vocês leitores, por se tratar de uma parte crucial da faca, que no entanto não pode ser enxergada nem tampouco medida.

Vou usar dois extremos que explicam bem o conceito: um bisturi e um machado!



O primeiro é uma ferramenta de corte que trabalha única e exclusivamente deslizando ao cortar. O cirurgião o apoia delicadamente sobre o corpo do paciente e suavemente o desliza, produzindo o corte desejado.


Machado

Já o machado, foi desenvolvido para cortar, sempre mediante impacto, materiais muito mais duros do que o corpo humano, como por exemplo a madeira. Para tal, deve ter uma estrutura física muito mais robusta, tanto com relação ao peso, para que o lenhador se beneficie da inércia, quanto com relação à resistência mecânica do fio, para que este sofra impacto e não se deforme, quebre ou produza dentes.

Nas facas custom esse princípio deve ser obedecido. Dois extremos: Uma faca de cozinha com 4 polegadas de lâmina, projetada exclusivamente para descascar e picar vegetais, e um cutelo, também para a cozinha, destinado a cortar ossos!


Faca de legumes, a primeira da esquerda

A primeira se assemelha mais à uma lâmina de barbear, já a segunda à um machado. E ambas são facas!


Cutelo

Fica claro que essas duas peças devem ter estruturas de fio diferentes. Isso é obvio, mas nem todo mundo respeita essa relação entre resistência mecânica e funcionalidade.


Minha primeira faca

Me lembro bem que, no início de minha carreira, minhas primeiras 2 ou 3 facas de caça, tinham geometria de fio parecidas com a de um machado. Obviamente erram horríveis de corte!

Mas como aferimos isso, se não é visível nem mensurável? Simples: utilizamos o tato da melhor ferramenta já produzida por Deus... fazemos uma pinça entre os dedos indicador e polegar e deslizamos do meio da lâmina para o fio, percebendo o quão acentuada é a curvatura. Isso leva anos para aprender, e mais alguns para conseguir reproduzir.


Skinner ou Nessmuk

É inimaginável esperar alto desempenho de uma faca skinner, por exemplo, que se destina a retirar o couro de uma caça, se ela tiver a mesma geometria de fio de uma faca de campo, que se destina a cortar uma árvore! Não vai funcionar bem!!!


Faca de luta

Uma faca de luta: o que deve cortar??? Só duas coisas: roupas e o cara que está dentro delas, nada mais. Ou seja, não devemos pensar numa estrutura física robusta de uma camp, quando projetamos uma fighter. Além de não cortar como deveria, ainda ficará pesada e lenta.

Alto desempenho de corte = respeito na construção da geometria de fio, alinhada ao que a faca se destina. 


Faca de campo

Corte mediante impacto = fio mais robusto.

Corte mediante deslizamento = fio menos robusto.

FINALIZANDO: Se negligenciarmos esses aspectos na confecção de um projeto, certamente não chegaremos nem perto dos 100% que uma lâmina pode alcançar em termos de performance. Creio que dos 4 itens citados, sem dúvida os mais importantes/determinantes do sucesso de uma lâmina são, o Tratamento Térmico e a Geometria do Fio. A observância destes são condições sine qua non para alto desempenho!






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